quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pingo amargo ou a memória curta do consumidor português

Tudo começou no dia 1 de janeiro, aquando do aumento do IVA. O Pingo Doce lançou a campanha com o lema "No Pingo Doce o aumento do IVA é zero." Afirmava-se taxativamente: "Por esta porta o aumento do IVA não entra. No Pingo Doce o aumento do IVA é zero. Zero. E os nossos preços vão continuar exactamente como estavam. Sempre baixos. Na loja toda. O ano inteiro. Este é o nosso compromisso."
A campanha gerou bastante polémica, uma vez que todos o IVA é um imposto obrigatório a todos os distribuidores. E, como os outros grandes hipermercados, também o Pingo Doce estaria sujeito a esta tributação. O ICAP (Instituto Civil de Autodisciplina da Comunicação Comercial ) acabou por considerar a campanha como publicidade enganosa. A cadeia de hipermercados sugeria que não pagaria IVA, o que não era verdade.  A verdade é que no Pingo Doce o aumento do IVA não acarretaria aumento de preços, uma vez que o Pingo Doce manteria os preços de 2010, ao diminuir os preços dos produtos antes de aplicado o IVA. O que é totalmente diferente.

Mas o consumidor português agradeceu.


De súbito, a empresa anunciou que iria transferir a sua sede social para outro país.  A Jerónimo Martins, detentora do Pingo Doce, prepara a sua entrada na Colômbia e os accionistas do grupo querem estar sedeados em mercados que não obrigam à dupla tributação. Daí a deslocalização para a Holanda, que terá mais valias de 1 milhão de euros, não sujeitas a tributação.

E o consumidor português enfureceu-se.
 
 
Criticou, insultou e boicotou a cadeia, utilizando as redes sociais como forma de divulgação.
Até o deputado do CDS, João Almeida dizia no Parlamento que era legítimo o boicote ao Pingo Doce. O grande público pedia o salário mínimo  holandês para os colaboradores da cadeia de hipermercados em Portugal.
E no passado dia 1 de Maio, dia do Trabalhador, o Pingo Doce lançou uma campanha em que oferecia 50% de desconto em compras superiores a 100 euros.
 
 
E o consumidor português enlouqueceu.
 
 
Muitos milhares de portugueses em todo o país trocaram as celebrações do 1.º de Maio pelas filas do supermercado, esquecendo a série de cortes que têm sido praticados pelo Governo. A campanha, que nem sequer teve publicidade, provocou uma verdadeira corrida às 369 lojas espalhadas pelo país. Houve relatos de pessoas na fila para entrar no supermercado desde as 4 da manhã e de agressões decorrentes da disputa por produtos foram frequentes nos órgãos de comunicação social ao longo de todo o dia. Todo o protagonismo ao Dia do Trabalhador passou para o Consumo.
Mas esta iniciativa do grupo Jerónimo Martins está a gerar controvérsia e poderá mesmo ter decorrido fora da legalidade. A ASAE está já a investigar eventuais indícios de prática criminal na campanha do Pingo Doce, para determinar se a cadeia vendeu produtos abaixo do preço de custo. A prática, denominada como dumping, é um cenário admitido pelo Ministério da Economia.

E o consumidor português não se importou.

 

4 comentários:

  1. Nem sei o que diga..... aproveitamento ou estupidez?
    Sei que existem pessoas com imensas dificuldades financeiras e acredito que seja útil comprar fraldas por 10€ mas será que não há outras soluções? será que estas campanhas não são um injusto aproveitamento das dificuldades que se sentem? e a todos os que se engalfanharam nesta louca terça feira, será que não podem poupar de outra forma?

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  2. o que me deixa estupefacto é a mudança de opinião pública consoante o vento e a maré...será que se hoje sair uma notícia negativa sobre um administrador da Jerónimo Martins, amanhã toda a gente vai boicotar o Pingo Doce? Boicotam o Pingo Doce e vão ao Recheio...

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  3. Existe toda uma falta de coerência no consumidor e isso sim é de criticar.
    Tal como a política de concorrência da cadeia Pingo Doce deixa muito a desejar.

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