segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rio + ou - 20

20 anos passaram desde a Cimeira da Terra no Rio de Janeiro.
Está aí a sua sequela: Rio+20. A mesma cidade, a mesma organização, 20 anos depois. Maiores problemas.
As Nações Unidas pretendem com esta cimeira descobrir novas soluções para os problemas do mundo actual. Temos hoje 7 biliões de pessoas, das quais:
- 1.4 biliões vive com 1 dólar ao dia, mais coisa menos coisa
- 1.5 biliões não tem acesso à electricidade
- 2.5 biliões não tem água potável
- 1 bilião passa fome
E facilmente se depreende que estas são quase sempre as mesmas pessoas.

As emissões de gases de estufa também não páram de crescer e mais de um terço das espécies conhecidas podem extinguir-se muito brevemente se não for posto um travão a isto. Além daquelas que já desapareceram.

O custo do que poderá vir a acontecer com o planeta é infinitamente superior ao custo que seria necessário para evitar o desastre. Mas parece que ainda não há grande consciência disso.
Já Fernand Braudel, grande historiador do início do século XX da Escola dos Annales, e um dos precursores da História das Mentalidades, afirmava que estas constituíam um padrão de pensamento que mudaria muito lentamente, sendo estruturas de muito longa duração.
Espero que ainda possamos mudar a tempo.

Mas afinal, o que é assim tão difícil de acordar entre os 180 países reunidos na cidade maravilhosa?
Foi desenvolvido um documento base, que aborda várias áreas, desde a economia verde ao financiamento internacional para o desenvolvimento sustentável, da água à energia, da educação à gestão das florestas. Ainda só se chegou a consenso para cerca de 30% das medidas propostas.
O principal problema prende-se com a divergência de opinião entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento.
Os países desenvolvidos são contra a criação de um fundo de financiamento de 30 mil milhões de euros para apoiar o desenvolvimento sustentável nos países mais pobres. Uma atitude destas parece-me claramente de países subdesenvolvidos, perdoem-me a antítese.
Este é apenas um exemplo dos muitos entraves que estão a ser criados às medidas propostas. Os países desenvolvidos estão a impossibilitar a alavancagem do desenvolvimento sustentável a nível mundial. E este só assim faz sentido. A nível mundial.
Caso contrário, os países pobres optarão pela forma mais fácil e menos sustentável de se desenvolverem economicamente.
E será que os países desenvolvidos não deveriam de facto pagar a sua enorme dívida ambiental, uma grande factura de muitas décadas de desenvolvimento económico desenfreado, financiando o tal fundo para permitir que os restantes países pertencentes ao fraco G-77 se possam desenvolver de forma sustentável.

E a tal de green economy, ou economia verde? Apesar do nome mais apelar ao consumo de substâncias psicotrópicas na Holanda, o seu objectivo é transformar o ambiente em capital, ou seja, em capital natural. E como qualquer outro tipo de capital, deve atrair investimento, ser explorado eficientemente, e idealmente aumentar em valor económico. A ideia de explorar economicamente o ambiente enfurece alguns ecologistas, pois consideram que este sempre foi o verdadeiro problema! Mas pode não ser bem assim. Pode significar que o valor dos serviços prestados através de uma boa gestão ambiental seja tido em conta, o que não acontecia até agora. Idealmente irá atrair investimento para áreas onde se preserva o ambiente e que sejam rentáveis. 
Para o mais céptico Boaventura Sousa Santos, a green economy quer "convencer os mercados (sempre livres, sem qualquer restrições) sobre as oportunidades de lucro em investirem no ambiente, calculando custos ambientais e atribuindo valor de mercado à natureza." Lamenta-se pelo facto de não haver "outro modo de nos relacionarmos entre humanos e com a natureza que não seja o mercado", afirmando ser uma verdadeira "orgia neoliberal".
Esperava-se que até 22 de junho se chegasse a um consenso, no fundo para ver quem fica com a batata quente.
O próprio secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse que a conferência Rio+20 é demasiado importante para falhar: “Se não tomarmos acções firmes, podemos estar a caminhar para o fim.”
Acho que já estamos há muito tempo.

Dessin de Burki, Suisse.

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