sexta-feira, 27 de abril de 2012

Os donos de Portugal ou Um país de brandos costumes

Muito se tem comentado sobre o documentário de Jorge Costa, "Os donos de Portugal".
Segundo o autor, este é um retrato dos últimos cem anos de poder económico, que aponta o dedo à protecção do Estado às grandes famílias (Mello, Champalimaud e Espírito Santo), que de há várias décadas para cá dominam a economia do país.
Permito-me hoje dissecar aqui alguns pontos criticados e demonstrar como fazem parte deste nosso país de brandos costumes, que, convenhamos, não difere hoje muito do Portugal dos reis e das cortes.
O documentário critica a forma de acumulação e crescimento da riqueza destas famílias, feita através dos casamentos. Ao olhar para a árvore genealógica, vemos que estão praticamente todas ligadas pelo sagrado matrimónio, método infalíval na gestão das grandes heranças. De facto, os membros destas grandes famílias são todos primos uns dos outros. São todos tios e tias de inúmeros sobrinhos. O que no fundo não difere muito do que era praticado nas cortes. Casamentos entre reis e rainhas, príncipes e princesas, condes e condessas, e por aí fora. Uma prática comum há vários séculos. Os bem casados. Os casamentos e os amores de conveniência. Já não ditados por títulos nobiliárquicos e sim por títulos na banca.
Refere-se ainda à constituição de riqueza e acumulação de poder ligado à ditadura e às simpatias por regimes fascistas na Europa do séc. XX. Portugal, como país neutro aquando da II Guerra Mundial, fez um jogo duplo considerado "brilhante" com os dois blocos. As conhecidas simpatias com o Eixo são conhecidas de todos, e muito bem retratadas no documentário. Considero esta forma de enriquecimento e de alargamento de influências altamente perversa e um ponto que deveria até ser mais focado e criticado na peça.
Por fim, quanto à compra, venda, privatização e nacionalização de empresas, quase compulsiva, algo já não tão chocante. Todos sabemos (ou deveríamos saber) que é assim que funciona neste mundo em que vivemos. O regresso de Champalimaud a Portugal e à economia nacional foi algo muito criticado durante o governo de Cavaco, quando se criticava que estávamos a deitar por terra todas as conquistas de Abril, com o processo de privatizações de empresas que tinham sido nacionalizadas.
Favores e desfavores, cunhas e recomendações. É assim que funciona e sempre funcionou este pequeno país à beira mar plantado. Portugal, um país de brandos costumes.

Um excelente documentário. Parabéns à equipa!


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